Introibo ad autare Dei! Deus te ama, sê bem vindo!

Homilia da Missa da Ceia do Senhor com Lava-Pés – 21/04/2011

19-04-2011 10:27

 

 Caríssimos irmãos e irmãs, concluímos nosso grande retiro, que foi a Quaresma no deserto junto a Jesus na sua via-crucis com esta grande festa que ora celebramos, abrindo assim o Tríduo Pascal, solenidade grandiosa de nossa liturgia, de nossa fé, tanto que se desdobra em três dias, isso mesmo, começamos hoje e só concluiremos na Grande Vigília a ser celebrada neste sábado. São João, no Evangelho que ouvimos começa a narração numa linguagem bem particular, quase litúrgica, poderíamos dizer: “Tendo amado os seus, amou-os até o fim”. O amor que se dá e não se impõe, que se abaixa para servir e não se coloca na posição de quem manda, que primeiro se traduz em gestos solidários e só depois busca as palavras que o expliquem, como podemos ver no gesto do lava-pés. Aqui Jesus se manifesta concretamente como é, o Servo Sofredor anunciado pelos profetas e que vai se entregar por todos nós. Deparamo-nos com um Jesus que manifesta um gesto de serviço e profunda humildade. Um gesto de verdadeiro Amor: Sabendo Jesus que chegava a hora de passar deste mundo ao Pai, depois de ter amado os seus do mundo, amou-os até o extremo.

Para nós cristãos, a celebração da “Páscoa” constitui-se num tríduo celebrativo, isto é, a “páscoa celebrada em três dias”. O tríduo se fundamenta na unidade do mistério pascal de Jesus Cristo, que compreende sua paixão, morte e ressurreição. Segundo o Missal Romano, “o Tríduo pascal, começa com a Missa vespertina da Ceia do Senhor, essa que estamos a celebrar, possui seu centro na Vigília Pascal e encerra-se com as Vésperas do domingo da Ressurreição” e em todo esse intervalo de tempo forma uma unidade que inclui os sofrimentos e a glória da ressurreição. Deste modo, celebramos de quinta para sexta-feira a “Paixão”, de sexta-feira para sábado a “Morte”, e de sábado para domingo a “Ressurreição”.

Na celebração desta Quinta Feira Santa, rememoramos a “Última Ceia” na qual Jesus revelou o seu “Amor em Plenitude” lavando os pés dos discípulos e repartindo com eles o pão. O amor torna-se presente nas mãos que lava os pés e no pão que é repartido. As mãos simbolizam ação, dinamismo. Através das mãos recebemos e doamos. João afirma, no Evangelho, que Jesus é consciente de que o Pai entregou em suas mãos o verdadeiro Amor e, antes de voltar ao Pai, precisa doar com suas próprias mãos este Amor aos seus discípulos: “…sabendo que o Pai havia posto tudo em suas mãos, que tinha saído de Deus e voltava a Deus, se levanta da mesa, tira o manto e, tomando uma toalha, cinge-a. A seguir, põe água numa bacia e começa a lavar os pés dos discípulos e a secá-los com a toalha que tinha cingido”.

No contexto histórico judaico oferecer ao hóspede água para lavar os pés da poeira do caminho era um gesto de cortesia muito comum. Normalmente esse gesto era feito por um servo ou por um discípulo dedicado ao seu mestre. Jesus contraria a tradição e inverte os papéis surpreendendo a todos. O mestre torna-se servo. A lição de serviço, humildade e Amor é testemunhada. A atitude de serviço, humildade e expressão de Amor, simbolizada no lava-pés, foi uma preparação para celebrar com mais dignidade a “Ceia”, conforme disse o próprio Jesus a Pedro: “Se não te lavar, não terás parte comigo”.

Por isso a memória da Ceia do Senhor: “Façam isto em memória de mim” será mero formalismo ou ritualismo se não for expressão viva e atual desse amor total. A Eucaristia jamais pode desvincular-se desse gesto de amor-serviço expresso no lava-pés, sob o risco de negar a própria essência mesma da memória de Jesus que deu a sua vida pelos que ele ama. No pão repartido Jesus entrega seu corpo aos discípulos. Trata-se de uma doação total. No pão está presente o “Amor em Plenitude”. Este Amor que se doa provoca transformação. Agora não é apenas uma transformação social, mas uma libertação do pecado, resgate para uma vida nova.

Quando, na celebração da eucaristia, o pão é repartido, devemos sentir o Amor de Jesus que se doa em plenitude. Amor que alimenta e revigora a nossa vida. Amor que nos compromete com os irmãos e irmãs. Amor que nos faz ser fiéis à vontade do Pai. Jesus pede aos discípulos: “Fazei isto em memória de mim”. O pedido de Jesus aos discípulos estende-se também a todos nós. Portanto, hoje celebramos o Amor presente no pão que se reparte e nos comprometemos em vivê-lo plenamente.

A Páscoa é o centro da vida e da fé dos cristãos. Trata-se da passagem da morte para a vida, da ausência para a presença, do Amor em plenitude. Na carta aos coríntios, Paulo transmite o novo e definitivo sentido da Páscoa ao afirmar: “O Senhor, na noite em que era entregue, tomou o pão, dando graças o partiu, e disse: ‘Isto é o meu corpo que se entrega por vós. Fazei isto em memória de mim”.

Esta presente liturgia é um convite a aprofundar concretamente no mistério da Paixão de Cristo, já que quem deseja segui-lo deve sentar-se à sua mesa e, com o máximo recolhimento, ser espectador de tudo o que aconteceu na noite em que iam entregá-lo. E por outro lado, o mesmo Senhor Jesus nos dá um testemunho maduro da vocação ao serviço do mundo e da Igreja que temos todos os fiéis quando decide lavar os pés dos seus discípulos.

A Santa Missa é então a celebração da Ceia do Senhor na qual Jesus, um dia como hoje, na véspera da Sua paixão, “enquanto ceava com seus discípulos tomou pão…”. Ele quis que, como em sua última Ceia com seus discípulos, nos reuníssemos e nos recordássemos d’Ele abençoando o pão e o vinho: “Fazei isto em memória de mim”. Assim podemos afirmar que a Eucaristia é o memorial não tanto da Última Ceia, e sim da Morte Paixão e Ressurreição de Jesus Cristo nosso Senhor! E mais, com tal gesto Ele institui o Sacerdócio!

Poderíamos dizer que a alegria é por nós e a dor por Ele. Entretanto predomina o gozo porque no amor nunca podemos falar estritamente de tristeza, porque aquele que dá e se entrega com amor e por amor, o faz com alegria e para dar alegria. Podemos dizer que hoje celebramos com a liturgia (1ª Leitura) a Páscoa. Porém à da Noite do Êxodo (Ex 12) e não a da chegada à Terra Prometida. Noutra vertente, hoje inicia a festa da “crise pascal”, isto é, da luta entre a morte e a vida, já que a vida nunca foi absorvida pela morte, mas sim combatida por ela. A noite do sábado de Glória é o canto à vitória, porém tingida de sangue, e hoje é o hino à luta, mas de quem vence, porque sua arma é o amor em plenitude do Deus Todo-Poderoso.

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